5° capitulo Até que um dia...


Jacob Willekens, Almirante da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, auxiliado pelo Vice-Almirante Piet Hein, com uma Frota de 26 navios e 3300 homens, tomou São Salvador da Bahia, na Baia de Todos os Santos, no dia 9 de maio de 1624.
“Na ocasião o Governador Geral, Diogo de Mendonça Furtado, foi capturado e com a família enviado para a Holanda, o governo passou para as mãos de Johan van Dorth”.
“A resistência reorganizou-se a partir do Arraial do Rio Vermelho, contendo os invasores no perímetro urbano de Salvador”.
Como resposta Filipe IV& III, Rei de Espanha, Portugal, Nápoles, Sicília e Sardenha, Duque de Milão, Soberano dos Países Baixos (províncias de Artois, Hainaut, parte de Flandes (Lille, Douai, Orchies, e outras localidades) e Conde da Borgonha, enviou a Dom Fadrique Álvarez de Toledo y Osorio, Marqués de Villanueva de Valdueza, , Capitán general de la Armada del Mar Océano y de la Gente de Guerra del Reino de Portugal, General del Reino de Portugal y Capitán General de la Armada del Brasil, caballero de la Orden de Santiago,  no comando de uma Frota de  52 navios, transportando quase 14.000 homens, sendo a maior Armada já vista até então nos mares do Sul.
Historicamente esse feito é conhecido como Jornada dos Vassalos de 1625.
Em 27 de março de 1625, Salvador foi retomada.
Em meio à confusão a fuga.
Em meio à confusão que se instalou, havia um jovem de 20 anos, Manoel Leite, de uma família que fornecia leite de cabra aos moradores de sua localidade natal, situada no Aveiro, que em 7 de julho de 1139 foi instituída como o “couto de Cucujães” por Dom Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal, o Pai da Nacionalidade Portuguesa, e doado a Ordem de São Bento ou Ordem Beneditina, a  mais antiga ordem religiosa católica de clausura monástica que se baseia na observância dos preceitos destinados a regular a convivência social, O Mosteiro de São Martinho de Cucujães ou Mosteiro de São Martinho do Couto de Cucujães nas vésperas da famosa Batalha de Campo de Ourique.
A Batalha de Ourique ocorreu nos campos de Ourique, Baixo Alentejo, sul de Portugal, em 25 de julho de 1139. Com a vitória Dom Afonso Henriques se tornou o Primeiro Rei de Portugal - Rex Portugallensis (Rei dos Portucalenses ou Rei dos Portugueses - a partir 1140, o que só foi reconhecido por Afonso VII de Galiza, Leão e Castela, o Imperador, pelo Tratado de Zamora de 5 de outubro de 1143, e o posteriormente o Papa Alexandre III reconheceu O Pai da Nacionalidade pela Bula Manifestis probatum, de a 23 de maio de 1179.
Manoel Leite tinha ido, por curiosidade, até a cidade do Porto, e de lá foi levado pelos soldados do Rei à força para servir na Armada luso-espanhola enviada para reconquistar Salvador, a famosa Jornada dos Vassalos.
Manoel Leite era um jovem pastor, porem extremamente inteligente e trabalhador, que demostrava ter caráter forte, alto, de uma altura que o fazia ser o maior homem de seu povoado, bem encorpado, com boa musculatura, pernas rígidas, de tez clara, olhos verdes como os pastos de sua santa terrinha, com uma vasta cabeleira alourada, ar altaneiro como bom português do Norte, mas que entendia de cabras, de agricultura de sobrevivência, contudo nunca havia visto, nem estado, no Mar Oceano.
Mais, diante daqueles embarcados rústicos, de origem e línguas diferentes, muitos deles criminosos que tiveram suas penas de morte comutada pelo serviço no mar, fedorentos, vestidos com calções compridos e volumosos, com camisas de pano grosseiro e um sobretudo em forma de batina, sem mangas, vestimenta que por sua igualdade dava aspecto de uniforme naval, resolveu não chorar, não esmorecer, todavia, jurou a si mesmo que na primeira oportunidade fugiria daquela Armada que jamais quis pertencer.
Manuel Leite era um bom atirador, aprendeu a manusear as armas com o avô, Antônio, afim de abater qualquer animal que fosse se alimentar no rebanho de cabras da família.
O Capitão Íñigo Vela y de Áurea Jiménez lhe deu um mosquete para segurar, e ele sem perceber, num reflexo, matou em pleno voo uma gaivota que se aproximara do navio.
Recebeu duas pistolas, munição, um sabre, e foi removido para o grupo de La Infantería de Marina, cuja missão era realizar missões em terra, que estava abordo do navio onde ele fora embarcado semiconsciente.
Não pensem que a vida na Infantería de Marina era diferente da do resto da marujada.
Nada de banho, higiene bucal ou corporal zero, proliferavam os piolhos, pulgas e percevejos, tanto que Manuel teve que raspar a sua vasta cabeleira, já que os homens se coçavam até sangrar.
Os alimentos eram escassos, pois havia roubo desde o Armazém Real, encarregado do fornecimento. Os biscoitos, a carne salgada, o bacalhau salgado, a banha, as favas, as cebolas, as resmas de alho, ficavam cheios de bolor e com isso proliferavam os parasitas. Havia ainda o sal, o azeite, o vinagre, o mel, o trigo, o vinho, mas esses eram destinados a oficialidade, que comia os produtos que estavam em melhores condições.
Agua só para beber e cozinhar.
Na realidade o escalão mais baixo comia mesmo era biscoito, quase sempre podre, e carne salgada, o que aumentava a sede, e a agua era controlada pelo próprio Capitão, ou pelo despenseiro, o que dava chance de uma boa corrupçãozinha, um pedido de um favorzinho carnal, por parte deste último.
Teve soldado que bebeu urina de tanta sede, e outro que se atirou no mar por causa dela, e isso dava a Manuel mais força ainda para fugir.
Todos sem exceção no navio fediam.
O mau cheiro somado ao balanço do mar, isso sem falar do cheiro das chamadas necessidades fisiológicas, faziam com que aqueles homens, muitos deles agricultores ou empregados subalternos nas cidades, enjoassem para valer, e aí era um vomito só.
Manuel Leite tudo suportava.
Manuel Leite só tinha um pensamento: fugir na primeira oportunidade.
Fez amizade com Zenon Baius, natural da Valônia, um belga de dois metros de altura, fortíssimo, de barba e cabelos ruivo, sardas pelo rosto, que estava sempre de bom humor, que era um excelente atirador, que tinha aprendido português no antigo navio onde era embarcado, que estava desempregado morando em Lisboa quando a Armada foi organizada e aproveitou para embarcar, pois não aguentava ficar longe do Mar Oceano. 
Na realidade Zenon Baius teve pena dele e o protegeu daquela malta de bugres.
Desembarcaram juntos no assalto aos holandeses em Salvador, mas no meio da luta cada um foi para um lado.
Nisso Manuel Leite se vendo sozinho, pois a tropa avançara, olhou para um lado, olhou para o outro, e tomou o rumo oposto aos exércitos do Rei luso-espanhol.
A princípio andou, andou, depois correu, correu, saiu da cidade, e correu mais ainda. 
Nem ele sabe como chegou a Casa Grande abandonada da Sesmaria de Dom Gonçalo de Melo, mas chegou.

Só depois de muito dormir, se sentiu livre outra vez.

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