2° capítulo Dom Manuel, o Venturoso
Manuel
I, cognominado O Venturoso, O Bem-Aventurado ou O Afortunado, Rei de Portugal e
dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, primeiro rei a assumir o título
de Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia,
reinou de 25 de outubro de 1495 até sua morte em Lisboa no dia 13 de dezembro
de 1521, portanto 26 anos 1 mês e 18 dias.
Ora,
o Brasil foi descoberto em 1500, mas Sua Alteza não deu a menor importância a
descoberta do Capitão-mor Pedro Alvares Cabral por 21 anos, até porque existe
em um Provérbio Português que diz “ quem é rei não volta atrás”, e o senhor Dom
Manuel não podia voltar atrás em relação ao nosso descobridor já que escolheu o
Partido de Vasco da Gama, em detrimento ao Partido de Cabral, ficando assim
para ele muito difícil reconhecer que a Terra de Santa Cruz era na realidade a
joia mais preciosa de sua Coroa.
Dona
Maria de Aragão e Castela ou María de Trastâmara y Trastâmara, Infanta de
Aragón y Castilla, casou com Dom Manuel, viúvo de sua irmã mais velha Isabel de
Aragão, em 30 de outubro de 1500, ambas, portanto filhas de Fernando II de
Aragão e de Isabel I de Castela, Os Reis Católicos.
O
primogênito de Dom Manuel e Dona Maria foi Dom João, que subiu ao Trono sob o
nome de Dom João III, décimo quinto Rei de Portugal, cognominado O Piedoso ou O
Pio pela sua crença religiosa.
Foi
Dom João III que “herdou «um império vastíssimo, mas demasiado disperso», que
começou a efetiva colonização do Brasil, pois o dividiu em
capitanias-donatárias, ou capitanias hereditárias, estabelecendo um governo central
em 1548, e logo a antiga Terra de Santa Cruz, desprezada por seu pai «
rapidamente se tornou o elemento fundamental do império português, assim o
sendo até o início do século XIX».
Capitanias
Hereditárias criadas foram:
Capitania
do Maranhão, Capitania do Ceará, Capitania do Rio Grande, Capitania de
Itamaracá, Capitania de Pernambuco,
Capitania do Espírito Santo, Capitania de São Tomé, Capitania de São Vicente,
Capitania de Santo Amaro, Capitania de Santana.
Mais
para nossa história interessa as Capitanias de:
a- Capitania da Baía de Todos os Santos:
Território
da Foz do Rio São Francisco (AL/SE) a Itaparica (BA) - donatário: Doada em 5 de
março de 1534 a Francisco Pereira Coutinho, o "Rusticão", que dois
anos mais tarde ao chegar na baía de Todos os Santos encontrou uma pequena
comunidade liderada por Diogo Álvares Correia, o Caramuru, sua esposa Catarina
Alvares Paraguaçu, ou Catarina do Brasil, índia tupinambá, filha do cacique Taparica,
com muitos filhos.
“Catarina
e Diogo Caramuru formaram a primeira família cristã documentada do Brasil”.
Fundou
o Arraial do Pereira, nas imediações onde hoje está a Ladeira da Barra, em
Salvador.
“A
paz reinou durante alguns anos entre os índios Tupinambás e os novos colonos
que estabeleceram engenhos e espalhando-se as culturas de cana-de-açúcar”.
Mais,
um belo dia de 1545, os Tupinambás atacaram os colonos que se refugiaram em
Porto Seguro.
Negociada
a paz, os colonos começaram a retornar, todavia o barco que eles estavam
voltando naufragou em frente a Ilha de Itaparica, e eles foram comidos pelos
índios tupinambás nessa antropofágica
Foi
nessa ocasião que Francisco Pereira Coutinho, o "Rusticão", também,
foi comido, após ser imobilizado e executado por uma borduna pelo filho de um
índio que ele havia matado.
Com
a morte do Donatário a Coroa Portuguesa comprou a Capitania da Baía de Todos os
Santos em 1548 para nela instalar o Governo-geral da colônia, passando a ser a
Capitania Real da Baía, e a cidade de São Salvador da Bahia de Todos os Santos
sua sede.
b- Capitania de Ilhéus:
Território
de Itaparica (BA) a Comandatuba (BA) – donatário: Jorge de Figueiredo Correia,
nunca foi à região que recebeu do Dom João III em 26 de junho de 1534. Nomeou a
Capitão-mor Francisco Romero que criou uma das primeiras vilas da história do
Brasil: a vila de São Jorge dos Ilhéus, que posteriormente se tornou em cidade
de Ilhéus.
Gabriel
Soares de Sousa, vereador da Câmara de Salvador (Portugal, década de 1540 —
Bahia, 1591) que veio para o Brasil entre os anos de 1565 e 1569, se
estabelecendo na Bahia, onde casou e prosperou sendo senhor de um engenho de
açúcar, considerado um dos homens bons da terra, afirma que na Capitania de
Ilhéus foi onde se plantou, pela primeira vez no Brasil, a cana-de-açúcar.
Em
Ilhéus era que Mem de Sá, tio de Estácio de Sá, fundador da Cidade de São
Sebastião do Rio de Janeiro, tinha o Engenho de Sant'Ana, que depois doou aos
jesuítas, e “após um período próspero, a capitania entrou em longa disputa
judiciária. Incorporada, juntamente com a Capitania de Porto Seguro, à
Capitania da Baía de Todos os Santos em 1761”.
c- Capitania de Porto Seguro:
Território
Comandatuba (BA) a Mucuri (BA) – donatário: Pero do Campo Tourinho – recebeu em
27 de maio de 1534 de Dom João III, sendo o Foral passado em 23 de setembro de
1534. Chegou a região com 700 pessoas para colonizar a área, levantado sete
vilas, das quais as mais importantes foram Porto Seguro, Santo Amaro e Santa
Cruz.
Acusado
de herege, e “em 17 de setembro de 1547, Pero do Campo Tourinho já se
encontrava a residir na rua do Poço, em Lisboa, para responder ao processo
instaurado pela Santa Inquisição e o Tribunal o obrigou a hipotecar sua
capitania, «que faça o sopricante hipotheca e obrigaçom gerall de sua fazenda,
em especiall, da sua capitania e rendas delia»”, ou seja, mais uma
patifaria da Santa Madre Igreja, pois o donatário tinha dado seu suor e
lágrimas para implantar o cristianismo, fundando vilas e suas paróquias,
erguendo oito igrejas, mantendo sete sacerdotes e povoar o Brasil com seus
próprios recursos. Apesar de absolvido, não teve licença para retornar ao
Brasil.
Mais,
Pero do Campo Tourinho dou várias sesmarias, uma das quais a Dom João de
Lencastre Duque de Aveiro, 1.º Marquês de Torres Novas, a quem concedeu licença
para construir um engenho de açúcar.
Contudo,
em 16 de julho de 1559, sua filha Leonor, casada com um tal de Gregório
Pesqueira, moradores em Viana do Castelo, venderam a Capitania, com autorização
rela, ao dito Dom João de Lencastre Duque de Aveiro, 1.º Marquês de Torres
Novas.
Por
causa da demorada e complicada questão judiciária relativa à herança da Casa de
Aveiro, o engenho em Porto Seguro não prosperou, mas mesmo assim houve a
produção açucareira nessa região.
Produção
essa não tão rica como nas demais localidades do Brasil, já que produziram em
1570 somente 4 mil arrobas de açúcar contra 18 mil na Bahia, 8 mil em Ilhéus.
Mais
tarde, em 1583, “só havia um engenho de açúcar em Porto Seguro, que seria o
engenho da Riaga, do Duque de Aveiro, que foi queimado pelos índios aimorés, e
que nunca mais o Duque o consertou”.
Como
já sabemos a capitania de Porto Seguro, junto com a de Ilhéus, foi incorporada
à Capitania da Baía de Todos os Santos em 1761.
A
propriedade de um Senhor de Engenho era composta de:
1- A Casa-grande e a Capela do proprietário,
chamado de ‘senhor’;
2- A Senzala, lugar onde ficavam os escravos;
3- A plantação de Cana:
Nota:
As terras não exploradas pelo senhor do engenho eram cedidas aos lavradores,
obrigados a moer sua cana no engenho do proprietário, entregando-lhe a metade
de sua produção, além de pagar o aluguel da terra usada (10% da produção).
O
engenho propriamente dito conforme sua categoria era chamado de:
a-
O Engenho-banguê
era movido a tração humana, ao braço escravo;
b-
O
Engenho-trapiche era movido a tração animal;
c-
O Engenho-real a
roda d’agua.
O
Engenho era composto de:
I- A
moenda, Era uma espécie de triturador composto por rolos, que servia para
esmagar a cana-de-açúcar a fim de se obter o caldo da cana, a garapa;
II-
A casa das caldeiras ou as fornalhas - onde o caldo de cana era fervido e
purificado em tachos de cobre;
III-A
casa de purgar- onde o açúcar era branqueado, separando-se o açúcar mascavo
(escuro) do açúcar de melhor qualidade e depois posto para secar.
IV-Quando
toda essa operação terminava, o produto era pesado e separado conforme a
qualidade, e colocado em caixas de até 50 arrobas para exportação;
V- Muitos
engenhos possuíam também destilarias para produzir a aguardente (cachaça),
utilizada como escambo no tráfico de negros da África.
Todo
o conjunto passou com o tempo a ser assim denominado, incluindo as plantações,
como A Fábrica.
O
que sabemos é que nas Terras da Bahia a Cana de Açúcar foi plantada e com isso
houve prosperidade para os Senhores de Engenho, pois dela eles fabricavam o
açúcar, o melaço, e a água ardente, a nossa cachaça.
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